À conversa com...

O nosso primeiro convidado do «à conversa com...» é o António Amaral, ex-presidente da FERSAP (ver CV anexado), cuja colaboração na divulgação do livro, nomeadamente na realização de diversas sessões de apresentação, tem sido fundamental para o sucesso do mesmo e, desde já, publicamente agradecemos. É para nós uma honra ser o António Amaral a dar início a esta rubrica.
 
NBNT: Qual a importância deste tipo de publicações dirigidas a pais e, no caso concreto, que avaliação faz deste livro?
 
 
António Amaral: Ser pai e mãe na sociedade dos nossos dias é muito diferente e com um grau de exigência muito maior daquele que se verificava há apenas algumas décadas. Gostaria de referir apenas dois pormenores. Hoje, as crianças são reconhecidas como seres humanos, com direitos consagrados. Até há poucos anos, as crianças, que passavam a maior do seu tempo em casa ou na rua, eram tratadas como menores, canalha, abusadas impunemente com maus-tratos. A maioria destas crianças, hoje homens e mulheres, pais e mães, tiveram uma escolaridade obrigatória de apenas seis anos, muitos nem isso, e uma educação pouco elaborada. Os seus filhos, porém, passam muito mais tempo na escola e adquirem conhecimentos muito superiores aos dos seus progenitores.
Esta rápida alteração civilizacional veio apanhar estes novos pais "desprevenidos", sem experiência e conhecimentos para darem resposta às novas exigências educacionais.
Ora, como as crianças não nascem com um livro de instruções em anexo, é uma evidência que os novos pais têm de procurar ajuda para entenderem o como fazer, para realizarem um projeto vida familiar mais feliz, de acordo com os seus anseios e objetivos.
"Nem bonsai nem trepadeira" é uma obra de referência. Numa linguagem acessível a todos os leitores, casa exemplarmente a prática e a teoria. Ao contrário de outras obras, nas quais os autores se preocupam em demonstrarem a sua sabedoria, José Miguel Oliveira, como bom mestre, mas sem paternalismos nem cedência ao facilitismo narrativo, explana os conceitos com a limpidez e pureza da água que brota na montanha.
Em suma, este é um livro de consulta, que pode ser lido no metro ou na praia, mas que apetece ler em voz alta e comentado nos serões de família. Porque educação é partilha.
 
NBNT: Que outras iniciativas ou ações poderiam ser levadas a cabo, no sentido de proporcionar aos pais momentos de partilha e reflexão e, no caso concreto, como tem visto as sessões dinamizadas em torno deste livro?

 
António Amaral: Vivemos um momento de crise, que veio para ficar, e as suas consequências são imprevisíveis. A família surge como o último reduto, como o ventre materno que nos aconchega e resguarda das ameaças externas. Não se trata de fazer terapia de grupo, mas a coisa anda lá próxima. É necessário reinventar a conversa de bairro, de vizinhos, de pares, de proporcionar esses momentos de partilha e reflexão, de dar voz a todos, porque todos descobrimos, agora, que estamos vulneráveis. Vamos reinventar os clubes de pais/famílias, tertúlias em espaço aberto - é uma proposta. Nas sessões dinamizadas em torno deste livro (pelo menos nas que assisti), verifiquei a disponibilidade das pessoas para falarem, sem receio de se exporem, a necessidade interior de se exprimirem porque isso as conforta e as socializa, lhes dá o sentimento de pertença da tribo e as afasta de um isolamento atroz que a todo o custo se tem de evitar.

 
NBNT: Que balanço faz do período em que tem estado à frente da FERSAP e como perspetiva o futuro, quer a sua intervenção pessoal nesta área, quer do movimento associativo de pais e encarregados de educação?
 
 
António Amaral:  São dez anos, coincidentes com o início do séc. XXI, com grandes mudanças, quer nas escolas, quer nas tecnologias da informação, que hoje dominam o mundo.
Nas escolas assistimos ao aparecimentos dos agrupamentos e a todas as alterações que vieram provocar, quer na gestão das escolas, quer nos seus projetos educativos. Este processo também marca a participação dos pais e do seu movimento associativo nas escolas. Há um antes, onde os pais não tinham direito a voto em qualquer órgão da escola, e há o depois, onde passaram a ser reconhecidos como membros de direito da comunidade educativa, inclusive de votar e ser eleito nos órgãos de direção da escola. Foi um passo de gigante, mas, como em tudo na vida, leva o seu tempo para alterar hábitos e culturas.
As novas tecnologias de informação, como a Internet, que veio possibilitar os 'websites' e as redes sociais, permitiu às associações de pais ultrapassar dificuldades de comunicação. A FERSAP iniciou em novembro de 2005 o seu portal e, ano após ano, o número de visitantes foi subindo de forma extraordinária, com dois milhões e quinhentos e oitenta e sete mil visitantes durante o ano de 2012. A página no Facebook tem uma média semanal de 4500 visualizações, demonstrando um interesse latente das pessoas por assuntos da área da educação. Em 2003 a FERSAP tinha 86 associadas. Hoje tem cerca de 200. Estes números resultam de um maior empenho e consciencialização (sobretudo das mães, que estão em grande maioria das associações de... pais) numa maior participação da vida da escola dos seus filhos.
Os conhecimentos e as amizades, que fui adquirindo ao longo dos anos nas associações de pais, permitem-me perspetivar com confiança o futuro, que decerto vai ter um crescente envolvimento das famílias nas questões da educação. Para potenciar e apoiar esta dinâmica, fundei duas associações que vão trabalhar em parceria com as associações de pais - a Academia de Cultura e Solidariedade Ramiro Freitas e a Associação de Formação e Comunicação em Educação - para o desenvolvimento de projetos de apoio à criança, ao aluno, à família e às próprias associações de pais. O futuro inventa-se hoje!


António Amaral

 
Actividade mais relevante na área da Educação e do Associativismo de Pais:

Presidente da FERSAP – Federação Regional de Setúbal das Associações de Pais – de 2004 a 26-01-2013

Presidente da Mesa da Assembleia Geral da FERSAP - 2013

Presidente da UCAPA – União Concelhia das Associações de Pais de Almada – 2009/2010 e 2013

Presidente da Associação de Pais da Escola Secundária Fernão Mendes Pinto – desde 2010

Vice-presidente do Conselho Geral da Escola Secundária Fernão Mendes Pinto – desde 2011

Membro do Conselho Municipal de Educação de Almada – de 2006 a 2012

Membro do CLASA – Conselho Local de Acção Social de Almada – desde 2009

Membro do Conselho Geral da Fundação Escola Profissional de Setúbal - desde 2009

Presidente da Direcção da Academia de Cultura e Solidariedade Ramiro Freitas – desde 2010

Presidente da Direcção da EDUFOCO - Associação de Formação e Comunicação em Educação - desde 2012

Presidente do Conselho Consultivo da CONFAP – 2003/2005

Vice-presidente do Conselho Executivo da CONFAP – Set/2007 a Set/2009

Membro da Comissão Sectorial para a Educação do Instituto Português de Qualidade – 2007/2009 (*)

Vice-presidente do Conselho Consultivo da Plataforma Contra a Obesidade – 2008/2009 (*)

Juiz Social do Tribunal de Comarca e de Família e Menores de Almada – desde 2010

   (*) Em representação da CONFAP

Formação académica:

Licenciatura em Jornalismo e pós-graduação em Direito da Comunicação